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Agosto Lilás: a luta contra a violência que adoece mulheres no Brasil e no mundo


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No Brasil, ser mulher ainda é, muitas vezes, viver sob a sombra da ameaça. Em cada rua, em cada casa, em cada cidade, histórias de agressões e abusos se repetem — e não falamos apenas de violência física. A violência psicológica, silenciosa e invisível, é uma das formas mais devastadoras de agressão. Ela corrói a autoestima, isola a vítima e compromete a saúde mental de forma duradoura.


Um retrato alarmante


De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024, mais de 1,2 milhão de mulheres foram vítimas de algum tipo de violência em 2023. Foram 258.941 casos de violência doméstica, 778.921 ameaças e um aumento expressivo de 33,8% nos registros de violência psicológica. Isso significa que, a cada dia, pelo menos 245 mulheres sofrem agressões no Brasil.


O Ligue 180, canal nacional de denúncia, registrou 72.993 ocorrências de violência psicológica no último ano, tornando-a o tipo mais denunciado. Ofensas, humilhações, manipulação emocional, ameaças, controle da vida cotidiana e isolamento social compõem o arsenal de quem abusa, e frequentemente são o primeiro passo para formas mais graves de violência.


Pesquisas do IBGE revelam que 18,6% das mulheres adultas sofreram agressão psicológica em apenas um ano. Entre as vítimas, 61,3% foram humilhadas ou ridicularizadas em público e 79,2% ouviram xingamentos ou gritos. As consequências não se limitam ao momento da agressão: quase metade das mulheres relatou sequelas mentais, como ansiedade, depressão, síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático.

A violência psicológica, embora menos visível, pode ter impacto tão devastador quanto a física, minando a autoestima, isolando a vítima e afetando sua saúde física e emocional.


Racismo e vulnerabilidade


A violência de gênero no Brasil é atravessada pelo racismo estrutural. Mulheres negras representam 63,6% das vítimas de feminicídio. Elas também enfrentam índices mais altos de violência psicológica (87%) e física (78%).

A vulnerabilidade econômica agrava a situação: 85% das mulheres negras com baixa renda ainda convivem com o agressor, e 66% não conseguem se sustentar financeiramente sozinhas. Essa dependência dificulta o rompimento do ciclo de violência. Muitas sequer chegam às instituições formais — apenas 32% procuraram uma delegacia, e a maioria recorre primeiro a familiares ou vizinhos, reforçando a importância da conscientização coletiva.


Um problema de saúde pública


A violência contra a mulher não é apenas uma questão de segurança, mas também de saúde pública. A exposição contínua a situações de abuso psicológico e físico gera um colapso emocional que pode levar ao adoecimento mental e físico.

Crianças que presenciam violência contra a mulher sofrem consequências emocionais e comportamentais graves, mesmo quando não são vítimas diretas. Estudos no Brasil mostram que cerca de 65% apresentam sinais de problemas de saúde mental e até 72% têm dificuldades comportamentais. A exposição precoce aumenta o risco de desenvolver transtornos de ansiedade, depressão, TDAH, transtornos de conduta e até Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), diagnosticado em cerca de 16% após experiências traumáticas. Esses impactos podem persistir na vida adulta, prejudicar o desempenho escolar, a socialização e até contribuir para a repetição do ciclo de violência.


Nos casos de violência doméstica, as mulheres frequentemente apresentam um conjunto de psicopatologias decorrentes do trauma contínuo e da sobrecarga emocional. Pesquisas brasileiras e internacionais apontam como mais comuns:


  • Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) – caracterizado por flashbacks, pesadelos, hipervigilância e reações emocionais intensas diante de gatilhos relacionados à violência.

  • Depressão – sentimentos persistentes de tristeza, desesperança, perda de interesse e, em casos graves, ideação suicida.

  • Transtornos de Ansiedade – incluindo ansiedade generalizada, ataques de pânico, fobias e medo constante de reviver a situação de violência.

  • Transtornos do Sono – insônia, sono fragmentado ou pesadelos recorrentes.

  • Transtornos dissociativos – sensação de desconexão do próprio corpo ou da realidade como forma de autoproteção psicológica.

  • Transtornos de humor – alterações drásticas de humor, irritabilidade e instabilidade emocional.

  • Transtornos relacionados ao uso de substâncias – como tentativa de lidar com a dor emocional.

  • Somatização e transtornos psicossomáticos – dores crônicas, problemas gastrointestinais, fadiga constante e doenças autoimunes agravadas pelo estresse.

  • Baixa autoestima e sentimentos de culpa – muitas vezes reforçados pelo ciclo de manipulação e humilhação.


Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública e de estudos do Ministério da Saúde, mulheres vítimas de violência têm até três vezes mais chances de desenvolver depressão, ansiedade ou TEPT, e apresentam maior risco de suicídio. A persistência do abuso aumenta a cronicidade desses quadros e dificulta a recuperação sem apoio especializado.


  • O papel da atenção plena na reconstrução emocional


Em meio a esse cenário, práticas de atenção plena (mindfulness) têm se mostrado ferramentas poderosas no cuidado com a saúde mental de mulheres em situação de violência. Embora não substituam acompanhamento psicológico ou jurídico, essas práticas ajudam a reduzir sintomas de ansiedade, melhorar o sono, regular emoções intensas e fortalecer a capacidade de reconhecer e interromper padrões de pensamento autodepreciativos.

Ao treinar a mente para focar no presente de forma consciente e sem julgamento, a atenção plena contribui para a diminuição do impacto emocional das memórias traumáticas e oferece à vítima um espaço interno de segurança, mesmo diante de contextos adversos. Essa habilidade pode ser decisiva para fortalecer a autoconfiança, apoiar processos de tomada de decisão e ampliar a sensação de controle sobre a própria vida — aspectos essenciais para a reconstrução após a violência.


18 anos da Lei Maria da Penha


O mês de agosto também marca o aniversário da Lei nº 11.340/2006, a Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006. Criada após a luta de Maria da Penha Maia Fernandes, que ficou paraplégica depois de duas tentativas de feminicídio cometidas pelo marido, a lei é considerada pela ONU uma das mais avançadas do mundo no combate à violência doméstica.


A legislação estabeleceu mecanismos de proteção à vítima, punição ao agressor e políticas de prevenção. Mas, mesmo após 18 anos, os dados mostram que o desafio continua: as leis precisam ser acompanhadas de políticas públicas robustas e de uma mudança cultural profunda.


A história do Agosto Lilás


A Campanha Agosto Lilás nasceu no Mato Grosso do Sul, em 2016, idealizada pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres. A proposta era criar um mês dedicado à conscientização e prevenção da violência contra a mulher, aproveitando o aniversário da Lei Maria da Penha como marco.


O lilás foi escolhido como cor símbolo da luta feminina e da igualdade de gênero. Desde então, a campanha se espalhou pelo Brasil, com prédios públicos iluminados, ações educativas, palestras, rodas de conversa e ampla mobilização social. Hoje, o Agosto Lilás é reconhecido nacionalmente como um período de reforço no combate à violência de gênero.


Quebrando o mito do “não se mete a colher”


Por décadas, a cultura popular brasileira sustentou a ideia de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Essa crença, perigosa e ultrapassada, contribui para a perpetuação da violência. A violência doméstica é crime, e silenciar diante dela é contribuir para sua continuidade.

Romper com essa mentalidade é fundamental. Denunciar não é invadir a vida do outro — é proteger a vida de quem está em risco.


A responsabilidade de todos


O combate à violência contra a mulher exige mobilização coletiva. Homens, mulheres, familiares, vizinhos e colegas de trabalho têm o dever de agir diante de sinais de abuso. O Ligue 180 funciona 24 horas, todos os dias, e também está disponível pelo WhatsApp, oferecendo atendimento e encaminhamento para a rede de proteção.

A denúncia pode ser o passo decisivo para romper o ciclo da violência e salvar vidas.


Mais que um mês de campanha


O Agosto Lilás é mais que um calendário simbólico: é um chamado para que a sociedade aja durante todo o ano. Violência contra a mulher, especialmente a psicológica, não é inevitável. É prevenível, identificável e punível.

A mudança começa quando todos reconhecem que não se trata de “meter a colher”, mas de garantir que nenhuma mulher seja silenciada pela violência.


Consciente da gravidade e complexidade desse cenário, o MentePlena Instituto reafirma seu compromisso com a causa, atuando para fortalecer a saúde mental e emocional de mulheres em situação de vulnerabilidade. A instituição oferece oficinas, workshops e vivências de atenção plena em diversos contextos — de escolas e universidades a empresas, comunidades e espaços de acolhimento — com o objetivo de desenvolver estratégias práticas de autorregulação emocional, autoconhecimento e fortalecimento psicológico.


Essas ações não apenas oferecem suporte imediato, mas também contribuem para a prevenção de recaídas emocionais, estimulando redes de apoio e empoderamento que ajudam mulheres a romper o ciclo da violência e reconstruir suas vidas com dignidade e segurança.

 
 
 

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